Você já imaginou se pudéssemos escolher em qual família nascer, cidade, país e tudo mais? Ah, como tantos desejariam nascer em meio ao luxo de uma família abastada, em uma cidade deslumbrante, em um país desenvolvido. Mas você já parou para pensar em como seria morar nas ruas um dia? Já imaginou sentir a fome apertando o estômago? Nem em meus sonhos mais sombrios imaginei que essa seria minha realidade.

Me chamo Vinicius e, com meros 5 anos de idade, fui lançado ao abismo cruel de viver nas ruas. Meu pai perdeu seu emprego na grandiosa São Paulo e nossa família se viu em um turbilhão de dificuldades. O aluguel não pôde ser pago e minha mãe não tinha como trabalhar, pois tinha meu irmãozinho de apenas dois anos para cuidar. Despejados e abandonados, sem nenhum recurso ou o amparo de parentes, fomos forçados a chamar as ruas de lar.

A dor que meu pai sentia era indescritível, pois não conseguia encontrar trabalho algum. Então, ele tomou a dolorosa decisão de catar papelão, e eu, tão pequeno, o acompanhava nessa tarefa árdua. Não há nada fácil em depender das migalhas alheias, viver como se fôssemos lixeiras recebendo restos de outros. No entanto, mesmo nessa cruel realidade, eu me recuso a aceitar que seja o destino que me aguarda. Quero ser alguém, anseio pela oportunidade de proporcionar aos meus pais a dignidade que lhes foi negada.

Nas ruas, nos deparamos com inúmeras realidades e histórias tristes de pessoas que, apesar de tudo, ainda sonham enquanto enfrentam essa situação desoladora. Mas ser um mendigo não é nada fácil. Somos tratados como insignificantes, olhados com desdém pelas pessoas que passam, e muitas vezes somos julgados por coisas que sequer cometemos. Ouvimos, de maneira injusta, que estamos nessa situação porque queremos, como se fôssemos todos viciados, alcoólatras ou prostitutas. Mas essas pessoas não sabem que por trás dos nossos semblantes há uma dor que nos devora por dentro, e só nos restam as lágrimas como uma válvula de escape, aliviando o peso que carregamos em nossos corações. Choramos escondidos, para que ninguém perceba a tristeza que nos consome.

Nunca se conforme com o ambiente em que você vive. Sempre busque a mudança, anseie por uma vida diferente. Eu morei nas ruas, sobrevivi em meio a um lixão, mas jamais permiti que aquela realidade se perpetuasse dentro de mim. Eu desejei uma vida melhor e consegui alcançá- la.